19 de março de 2009

Vergonhoso e Inaceitável

Encontrei uma edição de o pequeno jornal "as noticias" que pretende trazer à comunidade de língua portuguesa em Londres algumas notícias do nosso país. A edição é do passado dia 28 de Fevereiro e ao abri-lo qual não é o meu espanto (num sentido obviamente muito negativo) quando dou de caras com um editorial escrito pelo pretenso director do jornal e que passo a transcrever:

"ERA UMA VEZ....

A discussão sobre o casamento de homossexuais, ou, como eles dizem, o casamento entre pessoas do mesmo sexo (não será a mesma coisa, ou haverá alguém que queria casar com outrem do mesmo género que não seja gay?) tem agitado partidos e instituições, tem revelado paixões e tem causado muitas discussões.
Não é que me interesse muito que o Manuel case com o Joaquim ou que a Rosa junte os trapinhos com a Maria. Isso é lá com eles e com elas, entre marido e marido não meto a colher. Pois que se casem... e que tenham poucos filhos - é o que sinceramente lhes desejo. E quando deturpo propositadamente este dito popular, faço-o com convicção, não por mera e gratuita ironia. Entremos então, no campo da ficção e avancemos com esta história que um dia destes pode vir a ser realidade.
Era uma vez... duas pequenas comunidades, de fêmeas uma e de machos a outra. Elas gostavam de fêmeas e eles de machos. Gostavam tanto, tanto, tanto, que não viam outra alternativa para as suas vidas que não fosse unirem-se pelo casamento. Vai daí, e porque a grande comunidade onde estavam inseridos se mostrava renitente em conceder-lhes aval para a legal consumação desse desiderato que apaixonadamente perseguiam, decidiram virar costas à sociedade que os descriminava e não os entendia. De pois de inúmeras peripécias que pouco adiantariam a esta história, conseguiram autorização para habitar duas ilhas isoladas, lá para os lados das Bermudas. Elas ocupavam uma das ilhas e eles a outra, nada de misturas homens com homens, mulheres com mulheres.
Durante muitos anos assim viveram estas duas felizes comunidades. Extasiados com tanta felicidade, não se aperceberam que lentamente iam envelhecendo. Num repente, nos garbosos jovens começaram a notar-se as rugas e as cãs. Aqueles esbeltos corpos de há anos começavam, agora, a definhar. As naturais maleitas da velhice, os reumáticos, o cansaço, a falta de vista, as dores de cabeça..., ditavam a sua inexorável lei. A pouco e pouco foram desaparecendo os membros destas duas comunidades. Hoje um, amanhã mais dois, lá iam abandonando esta vida que haviam vivido intensamente. Por fim, as duas comunidades extinguiram-se.
As duas ilhas lá estão, desertas de humanos, apenas habitadas por chilreantes passarinhos que souberam acasalar, que se souberam reproduzir. A Mãe Natureza, nestas coisas, não perdoa... FIM!"

Esta é então a "linda" e chocante história contada pelo Exmo. Sr. Daniel Santos. Pois agora tenho a dizer a este e a todos e senhores e senhoras que pensam como ele, o seguinte: Esta história está extremamente mal contada porque o que aconteceria seria cada vez mais pessoas se irem juntando às comunidades já existentes nas ilhas. As pequenas comunidades iriam crescendo sempre e naturalmente o equilibrio se manteria.
Mas digo-lhes mais:
- A homossexualidade existe desde tempos imemoriais. Se não o sabiam pesquisem e leiam um pouco talvez assim deixem de ter esperanças de que desapareca. Antigo Egipto, Grécia, etc...é só procurar.
- A homossexualidade não é uma doença, nem um desvio comportamental. AMOR tal como não tem idades, não escolhe raças, nem credos, também NÃO TEM SEXO. Como tal o amor entre duas pessoas do mesmo sexo é normal (por muito que incomode ou choque).
- O casamento entre pessoas do mesmo sexo (usado o termo para diferenciar do casamento entre heterossexuais Sr. Daniel Santos) já é permitido em vários países do mundo e noutros a parceria civil. Não em Portugal, claro está! Como sempre estamos no rabo do mundo em tudo e com cabecinhas como as deste senhor é fácil perceber porque é que tal acontece e porque é que o nosso país não sai da cepa torta.
- Em alguns países também já é permitida a adopção por casais homossexuais e/ou inseminação ou barriga de aluguer. Quanto a este assunto não me venham com histórias de que uma criança para crescer saúdavel e equilibrada necessita de um pai e de uma mãe porque basta olhar à minha volta e só vejo é gente desiquilibrada e todos eles filhos de heterossexuais. Contra factos não há argumentos!!!!!!!
Uma criança para crescer saudável e equilibrada precisa é de crescer rodeada de pessoas equilibradas, harmoniosas e que lhe dem amor e educação tão simples quanto isso, o resto é conversa....
- Quanto à Mãe Natureza, Sr. Daniel Santos e afins, ela realmente não perdoa. De tal forma que o comportamento homossexual foi observado em 1.500 espécies animais (está na hora de fazer mais umas pesquisas não acha Sr. Director de jornal??). Animais que sem dúvida é a Mãe natureza que muito NATURALMENTE cria. E esta hein????? (citando o saudoso Fernando Peça)

Penso que só publicou este editorial porque os ingleses não sabem português, porque apesar de muito aqui ser fachada e de continuar a existir muita homofobia por aqui, esse tipo de texto normalmente dá direito a ir parar a tribunal.
Lamento sinceramente que textos como estes continuem a aparecer publicados e ainda por cima escritos por um pretenso director de jornal que irónicamente(só pode), na mesma página em baixo escreve uma nota da direcção dizendo "....A sua publicação insere-se na responsabilidade democrática que temos em aceitar a liberdade de expressão, de opinião e o direito à diferença."
Sem dúvida que todos somos livres a ter a nossa opinião e ser livres de o dizer tal como eu o estou a fazer, não temos porém o direito de criticar, desejar mal, etc, e NÃO RESPEITAR A DIFERENÇA, como você fez e muitos fazem.




O sono de Gustave Courbet, 1866



Sem comentários: